A INSCRIÇÃO NA BOTA DO PRÍNCIPE (A assinatura no espelho)
A inscrição na bota do príncipe, cuja imagem de espelho aqui reproduzimos, lê-se
«Yzabel, dictus». Sobrepondo o cursor do rato à imagem de topo pode avaliar-se o ajuste da interpretação
à fotografia invertida (mas não retocada). O recurso à imagem de espelho apresenta as seguintes
virtudes:
1) Explicação : Permite compreender a
utilização de um pé esquerdo através do requisito da sua transformação em direito, prévio à
possibilidade de leitura.
2) Leitura : Faculta, de forma imediata, a
leitura dos sinais Y.Z.AbelDCCQ, compreensíveis como um nome de seis
letras (Yzabel), escrito por extenso e contendo uma adivinha interna introduzida pelos dois pontos,
seguido de uma abreviatura composta pelos restantes sinais (DCCQ).
3) Significado : Essa leitura constitui a
assinatura dirigida ao futuro D. João II, formando uma dedicatória paralela ao
monograma da união de D. Afonso V com a falecida rainha D. Isabel,
filha de D. Pedro, patente na bota direita do rei.
A explicação pormenorizada destes resultados encontra-se nas seguintes páginas:
Duas Botas, Perspectivas
e Sombras. Note-se que nesta, como em qualquer outra interpretação, algumas
manchas de tinta extremamente diminutas, ou quase invisíveis devido à sua muito fraca luminosidade em
relação aos traços próximos relevantes, não são integradas na leitura. A totalidade das manchas que se
nos afiguram nessas condições está assinalada por setas na imagem abaixo. A justeza da sua exclusão
pode ser sempre discutível, mas a melhor maneira de a avaliar é o confronto com os traços
próximos que se afiguram relevantes, sobre uma imagem não retocada, como é o caso.
A distinção entre o que nos parece mergulhado na sombra mas integrável na leitura, e o que
nos parece de rejeitar, faz-se do seguinte modo:
1) Quatro pequenas manchas pontuais, em posições interiores, são rejeitadas
devido à sua dimensão minúscula, que não admite qualquer comparação com os dois pontos que enquadram
o «Z» ou a pelica do «D».
2) Duas pequenas manchas, uma em cada extremo, um pouco mais extensas, mas
de fraquíssima luminosidade, são igualmente rejeitadas. A mancha situada no extremo esquerdo, contrastada
com o brilho do «Y» vizinho, parece-nos demasiado ténue e não interpretável como um traço adicional
situado numa zona de sombra brusca. A mancha situada no extremo direito, apresenta um aspecto diferente,
uma vez que, desse lado, a sombra abrange diversos traços de forma progressiva. Se dividirmos o «Q» final
em duas metades, com um aspecto próximo de «C» de um lado, e de «2» do outro, podemos dizer que a metade
«C» está ainda bem iluminada, enquanto a metade «2» se encontra já numa zona de sombra. Escolher os
limiares exactos de pequenez ou obscuridade a partir dos quais as manchas de tinta se tornam irrelevantes
é obviamente impossível, mas note-se que o contorno do «2», incluindo a pequena curvatura ornamental
superior e a argola inferior que se prolonga numa cauda bem perceptível, aponta no sentido de uma
continuidade significante, enquanto a pequena mancha apontada pela seta se nos afigura, à semelhança
da sua simétrica, como desprovida de qualquer significado, para além das variações de tom inerentes à
textura do material e até talvez à necessidade de atenuar um pouco o imediatismo da inscrição espelhada.
Naturalmente, melhor que todas as mediações impressas ou electrónicas é, como já
dissemos, o visionamento directo, com a ajuda de um pequeno espelho colocado a alguma distância do
políptico. A impressão gestalt que se desprende da luz e das sombras autênticas é talvez a mais
poderosa de todas as argumentações. |